domingo, 2 de agosto de 2009

Moradores se revoltam após PM matar mecânico


Moradores da favela Chica Luiza, no Jaraguá (zona norte de SP), queimaram dois ônibus após a morte de um mecânico de 45 anos com três tiros no rosto, durante uma ação da Polícia Militar, na noite de anteontem. A polícia diz que o homem era um traficante e que foi baleado em uma troca de tiros. Os vizinhos afirmam que a vítima, pai de dez filhos, não era bandido.

José Walter Ferreira da Silva foi atingido em uma viela da travessa Pascoal Bini, por volta das 21h. "Ele tinha visto que os policiais estavam por aqui e ouviu um tiro. Ficou preocupado e saiu para procurar os meninos, que estavam na rua", afirma a viúva, Angela Maria Vanderlei Ferreira, 43 anos.

Assim que Silva entrou na viela, pode-se ouvir três tiros. A filha do mecânico, de 16 anos, correu até o local e viu o pai caído no chão, com o rosto ferido, e cerca de seis policiais em volta. "Eles pegaram o RG do meu pai no bolso e, quando viram o nome, perceberam que era a pessoa errada. Um deles até colocou a mão na cabeça", contou W.F.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 46º DP (Perus), os PMs foram avisados por um pedestre sobre dois homens armados em uma viela. Policiais foram até o local, mas, segundo eles, foram recebidos a tiros e reagiram. Só Silva foi atingido. No local foram apreendidos, segundo os PMs, 231 pedras de crack, um revólver, um radiotransmissor e R$ 150.

Segundo testemunhas, os policiais arrastaram Silva pelo escadão, o colocaram no carro policial e seguiram para o pronto-socorro de Perus, onde ele morreu. "Eu corri para ver o meu marido, mas os policiais não deixaram. Um deles me falou que quem mexe com polícia tem que morrer", acusa Angela, aos prantos.

Indignados com a morte do mecânico, conhecido como o melhor da região, moradores do local dizem ter pedido explicações sobre a ação dos policiais. Houve um breve tumulto, que, segundo os moradores, foi contido com balas de borracha, gás pimenta e bombas de efeito moral.

A auxiliar de limpeza Neuza Moreira da Silva, 41 anos, passava pelo local no momento quando foi atingida por uma bala de borracha no braço. "Eles iam para cima das pessoas", contou.

Silva morava em um barraco de dois apertados cômodos com mais 13 pessoas da família. "Você acha que, se ele fosse traficante, moraríamos assim?", questionou sua mãe, Valtemira Ferreira da Silva, 63, referindo-se à casa.

Revolta
Diante da morte de Silva, a população ateou fogo a um ônibus municipal, por volta das 4h de ontem. Segundo o boletim de ocorrência, o motorista do coletivo foi surpreendido por quatro homens que jogaram gasolina no veículo e depois atearam fogo ao ônibus. Ao fugir, o motorista ainda teria caído no chão.

Quatro homens foram detidos e levados para a delegacia, mas ninguém foi reconhecido nem ficou preso.

Às 11h, os moradores voltaram a colocar fogo em um outro ônibus. Segundo a PM, o motorista foi agredido a coronhadas e teve algumas queimaduras leves. Ele foi levado para o pronto-socorro Perus, recebeu o atendimento e depois foi liberado.

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