'Filha, seu pai está vindo me matar', diz vítima antes de ser assassinada

A secretária-executiva Maria Carolina Reis Café Silva, de 30 anos, registrou boletim de ocorrência por agressão e ameaças na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, contra o ex-marido, o comerciante Edilson Alves de Araújo, 39 anos, 67 dias antes de ele assassiná-la a tiros, na frente da filha de 9 anos. Em clima de revolta, familiares compareceram ao enterro e velório nesta terça-feira.

No entanto, ela não quis dar prosseguimento à ocorrência, nem solicitar à Justiça medidas protetivas de urgência, como o afastamento do lar e o impedimento do agressor de manter qualquer tipo de contato com a mesma, conforme prevê a Lei Maria da Penha.

O assassinato ocorreu na noite de segunda-feira, no bairro da Encruzilhada, em Santos. Maria Carolina entrava com o carro na garagem do edifício onde residia, na Avenida Washington Luís, 245 (Canal 3), acompanhada pela filha de 9 anos. Quando Maria Carolina percebeu que o marido corria em direção ao carro armado, ainda teve tempo de falar para a menina: “Filha, seu pai está vindo me matar. Te amo. E diz pro Guilherme [filho mais velho de Maria Carolina, atualmente com 15 anos] que também o amo”.

Edilson apareceu, quebrou o vidro de uma das portas do carro e atirou cinco vezes contra ela. Três tiros a atingiram no tórax. Com a mãe desacordada, a menina foi até o interfone do edifício para avisar a avó sobre o crime. O casal estava separado havia seis meses. Ele não teria aceitado o fim do relacionamento e está sendo procurado pela polícia, acusado do homicídio.

Na manhã de 22 de julho, o comerciante ameaçou a ex-mulher com um revólver e a agrediu com coronhadas na cabeça. Maria Carolina registrou BO na tarde daquele dia. Ela relatou aos policiais que, até ser agredida, os dois mantinham um bom relacionamento.

Um dia antes, segundo informou, ela tinha ficado com o carro dele emprestado. Na manhã de 22 de julho, a vítima deixou a filha na casa de Edilson e seguiu para Cubatão, onde trabalhava.

Na Avenida Washington Luiz (Canal 3), perto da Rua Guedes Coelho, Edilson teria saído do porta-malas empunhando um revólver.

Ele passou a ameaçá-la. Assustada, Maria Carolina parou o veículo. O acusado queria ir para um motel discutir a relação, mas a vítima o convenceu a ir até a casa de seus pais, no Canal 3.

No relato aos policiais da DDM, Maria Carolina contou que, durante as ameaças para que reatassem o relacionamento, o suspeito teria dado coronhadas em sua cabeça.

Quando chegaram ao imóvel, que estava vazio, ela tomou banho para limpar os ferimentos. Depois, acalmou Edilson alegando que reataria a relação. Não houve testemunhas das ameaças e da agressão.