Uma denúncia anônima feita ao serviço 199 da Guarda Civil Municipal (GCM), por volta das 11h do último sábado, acabou com um crime silencioso, mas que durava mais de dois meses. O atendente A.M.M., de 56 anos, funcionário da Padaria Elite, no Centro, foi preso sob a acusação de aliciar uma menina de 11 anos. Os pais da criança foram os responsáveis pelo término da ação.
De acordo com a mãe, a dona de casa Viviane Barbosa de Souza, 30 anos, e o pai, o marinheiro Marcos de Souza, 37, a filha era abordada pelo atendente sempre quando ia comprar pão no estabelecimento comercial. “Há dois meses minha filha tinha comentado que um homem da padaria tinha chamado ela parar tirar fotos. E isso sempre ocorria quando pedíamos a ela para comprar pão”, contou Viviane.
“Sempre pedíamos para a nossa filha ir à padaria no começo da manhã ou no final da tarde. Em um bilhete disse para minha filha que queria tirar uma foto igual a que fez com a ‘Julinha’”, complementou Souza, chamando a atenção para a existência de outras vítimas.
No entanto, segundo o pai, a falta de provas fez com que nada pudesse ser feito contra o aliciador. “Nos não tínhamos certeza sobre essa ação ainda, não tínhamos nada que pudesse comprovar que era ele o responsável por essa barbaridade”, disse. Indignado com a situação, Souza ainda contou que tentou armar situações que pudessem confirmar a suspeita ou detê-lo.
“Até falei para a minha filha marcar um encontro com ele. Mas infelizmente nesse dia tive que trabalhar e não deixei minha filha ir ao ponto que seria combinado”, detalhou.
Segundo a mãe, a gota d’água foi quando a filha recebeu bilhetes com mensagens de amor. “Já era para fazermos isso faz tempo, porém, quando vi o papel não deu para se controlar e fomos até onde ele trabalhava para sabermos porque fazia aquilo”.
Bilhetes e religião
Já os guardas civis envolvidos na ocorrência contaram que no momento em que chegaram ao local, havia muito tumulto e que o funcionário estava escondido nos fundos do estabelecimento. Nesse ponto do comércio, eles encontraram mais sete bilhetes com mensagens amorosas. Em cada uma, segundo os policiais, tinha um nome diferente, todas do sexo feminino.
Com permissão dos guardas, a reportagem conseguiu ter acesso ao conteúdo de um dos bilhetes localizados no armário. Nele dizia: “Bom dia. Parabéns pelo dia dos namorados. Você é muito bonita. Jesus te ama. Nós também”.
Outro ponto que chamou a atenção dos policiais foi o fato do atendente utilizar como defesa a suposta profissão de pastor de uma igreja evangélica, situada no bairro da Enseada. “Quando o abordamos, ele estava com uma faixa azul de uma denominação evangélica que congregava. Provavelmente, pensou que isso pudesse inocentá-lo de alguma coisa”, analisou o inspetor da equipe envolvida na ocorrência, Leopoldo Moreira.
Ainda de acordo com a GCM, no momento da ocorrência o proprietário da padaria ficou surpresos com a notícia. Depois de localizado, o atendente foi conduzido ao 1º Distrito da Polícia Civil onde prestou depoimento durante a tarde de sábado.
Pais revelam trauma vivido pela filha
Enquanto atendiam a reportagem no 1º DP, os pais apresentavam ansiedade e bastante aborrecimento com a situação. De acordo com a mãe da menor, eram sensações provocadas pela surpresa do fato. “Uma criança ser aliciada por um senhor de 56 anos dentro de uma padaria é revoltante. Uma mãe nunca espera que isso aconteça com um filho”, destacou.
Segundo o pai, as abordagens realizadas pelo atendente à sua filha também provocavam medo e chegavam a alterar a rotina. “Ela ficava muito apreensiva quando passávamos pela padaria. Já era um trauma para ela. Por isso, sempre que tínhamos que ir ao Centro passávamos por outras ruas, ao invés da Guarda Mor. Evitávamos ao máximo passar pela frente do estabelecimento quando ela estava conosco”, frisou.
O pai, por sua vez, salientou que o problema também se estende à família. “Imaginar o sofrimento de uma filha é muito angustiante. Nós também sofríamos juntos”, afirmou.
Para os responsáveis pela menina, que também possuem um outro filho de oito anos, o caso é um alerta para a população. “Tem que bater a cara, tem que denunciar. Caso contrário, muitas outras crianças continuarão sofrendo e outras famílias passarão pela situação que estamos enfrentando”, declarou Viviane. “Deixar pessoas como esse atendente na rua que é um crime”, enfatizou Souza.
Atendente era pastor de igreja
O delegado titular de São Sebastião, Osmany Pinheiro Junior, ouviu o depoimento do acusado. Segundo ele, o atendente confirmou que era pastor de uma igreja evangélica na Enseada e se defendeu das acusações dos pais, dizendo que as mensagens não tinham o objetivo de se aproveitar da criança. No entanto, de acordo com Pinheiro Junior, ele já foi acusado de estupro.
O delegado explicou que apesar de ter sido realizado um flagrante, o caso tem que ser bem investigado. “É um quebra-cabeça. É a informação dos pais e da criança contra a dele. Neste caso, tem que se observar que a menina só chegou a receber as mensagens”, frisou.
O delegado ainda disse um lado importante do caso foi o fato da menor informar os pais sobre a situação que passava. “Felizmente, a menina não escondeu que recebia bilhetes”, lembrou.
O delegado ainda informou que o caso será encaminhado para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da cidade e deverá ser enquadrado nas leis do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). FONTE: IMPRENSA LIVRE
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