Cinco policiais militares foram presos em caráter administrativo pela Corregedoria da instituição, na madrugada de ontem, sob acusação de participarem de um grupo de extermínio na Baixada Santista. De acordo com uma fonte da corporação, um deles é irmão do policial da Força Tática Paulo Raphael Ferreira Pires, fuzilado no dia 18 de abril em Vicente de Carvalho, Guarujá.
A morte desse policial desencadeou uma onda de violência que só acabou oito dias depois, com mais 22 mortos. Os PMs detidos são acusados de participar de execuções para vingar a morte do colega.
O irmão de Paulo Raphael, que trabalha em Guarujá, pertence ao 21º Batalhão, as- sim como outros dois policiais detidos, que atuam na 4ª Companhia de Cubatão. Os outros dois estão lotados no 24º Batalhão de Diadema e 40º Batalhão de São Bernardo do Campo.
Fontes na Polícia Civil afirmam que o irmão de Paulo Raphael prometeu iniciar uma matança para vingar sua morte. Por isso, passou a ser observado logo depois do dia 18 de abril.
Os irmãos eram considerados policiais linhas-duras. Tanto que Paulo Raphael participou de incursões na Vila Baiana, em Guarujá, à procura do cadáver do irmão de um PM da Capital, morto pelo grupo local do Primeiro Comando da Capital (PCC) por ter sido identificado por vítimas como estuprador. Na ocasião, ele e os outros ninjas bateram no irmão do traficante Eduardinho, preso como o mandante da morte do PM.
Os cinco policiais ficarão presos, disciplinarmente, durante cinco dias para que sejam feitas diligências. O período de detenção pode ser prorrogado e, caso a Polícia Civil comprove a participação nas execuções, será pedida prisão preventiva ou temporária.
De acordo com o porta-voz da Corregedoria da Polícia Militar, Marcelo Nagy, o objetivo da prisão de caráter administrativo é aprofundar as investigações: "Queremos apurar os fatos e punir os culpados de maneira exemplar", disse quarta-feira à noite, em São Paulo, durante entrevista coletiva que anunciou as detenções.
Base das investigações
Em entrevista a A Tribuna, na série de reportagens sobre os crimes de maio de 2006, publicada entre os dias 25 e 30 de abril, um ex-policial que atua em grupos de extermínio apontou a participação de empresas de segurança nas ações dos encapuzados.
Essa revelação foi a base da investigação. E a descoberta de uma empresa de segurança formada por PMs foi o estopim para a detenção dos policiais. A empresa era utilizada para impedir roubos em casas comerciais de Vicente de Carvalho e Santos.
De acordo com a Corregedoria, policiais se juntaram para formar o "grupo da morte". O objetivo era assassinar assaltantes e ex-detentos. Outros indícios apontam para a participação de ex-membros das Forças Armadas. Junto com os cinco policiais, três civis foram presos. Um deles denunciou todo o esquema e a participação dos PMs nas ações de extermínio.
Execuções motivam crise na Segurança Pública
A prisão disciplinar dos poli- ciais acontece após pouco mais de um mês de muita agitação no setor de Segurança Pública do Estado. As 23 mortes registradas na Baixada Santista desencadearam trocas de comandos, pressões aos que resistem e a vinda de mais de 200 homens da Rota e do Batalhão de Choque para a região.
O clímax da crise ocorreu com a troca do comando da Corregedoria. O coronel Admir Gervásio assumiu a pasta com a missão de solucionar os crimes com agilidade. Em pouco mais de uma semana no cargo, começa a mostrar resultados.
Antes disso, o consulado norte-americano divulgou nota recomendando à população de seu país que não visitasse os municípios de Guarujá, Santos, São Vicente e Praia Grande. Essa atitude criou rusgas diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.
Nos bastidores da matança, a vingança e seus códigos velados, não escritos. Longe da farda, policiais agiram na touca, sendo chamados de ninjas, para vingar a morte do irmão de um PM, acusado de estupro e executado pelo PCC. O policial Paulo Raphael, de acordo com os indícios, era um deles.
Mais vingança
Quando os ninjas, organiza- dos em grupo de extermínio, assassinaram Alexandre, irmão de Natal e primo de Eduardinho, comparsas no comando do PCC na Vila Baiana, em Guarujá, foi a vez de Paulo Raphael ser morto. Mais vingança. A promessa era de que 50 morreriam. Foram 22.
Daí por diante a história é de domínio público e trágica. As investigações da Polícia Civil e da Corregedoria estão apenas no começo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário