O monstro de Luziânia morreu e assim terminou o caso do pedófilo que matou seis jovens no estado de Goiás. O pedreiro Adimar Jesus da Silva, que chocou o país ao confessar friamente os crimes, foi encontrado morto dentro da cela.
Para os presos, o pedreiro teria planejado a própria morte. Na tarde de sábado, eles ouviram o barulho de um tecido sendo rasgado na cela de Adimar Jesus da Silva.
“Escutamos ele rasgando panos. Um amigo meu, que é companheiro aqui, perguntou para ele: não vai se suicidar, né, Adimar? Ele falou, não vou fazer isso”, conta o preso Ricardo Gonçalves da Silva.
Pouco depois das 12 horas de domingo, o barulho da água do chuveiro caindo sem parar despertou a desconfiança.
“Ele falou que ia tomar banho e ligou o chuveiro. A água ficou caindo sem bater no corpo, ficou caindo no chão. Uns presos que estavam dormindo ficaram meio incomodados. A gente começou a chamar ele. Ele não falou nada. A gente já gritou pelo agente. Quando o agente veio, ele já estava morto”, descreve o preso Ricardo Gonçalves da Silva.
Segundo a polícia, Adimar teria feito uma corda com tecido do colchão e amarrado em uma grade de ventilação no alto da cela.
“Muito bem trançada. Quem fez isso tinha muita paciência. É um trabalho demorado, caprichado”, aponta a perita Iracilda Coutinho Itacarambi.
“Penso que ele tenha subido em uma cama de alvenaria ao lado, onde fica o colchão e alcançou, não é tão alto. Ele não saltou porque o tecido não é tão resistente. Ele se matou por asfixia. Abaixou um pouco e forçou”, afirma o delegado Norton Luiz Ferreira.
Considerado um homem perigoso e que poderia despertar o ódio de outros presos pela brutalidade dos crimes que praticou, Adimar de Jesus era mantido isolado desde que foi preso, há uma semana. Ficava sozinho em uma cela da delegacia de repressão a narcóticos. Era responsabilidade do Estado garantir a integridade física dele.
Não houve falhas, diz polícia
“A todo momento, os agentes entram na cela para levar alimentação, para levar água. Ele estava simplesmente com a roupa do corpo e com o colchão”, diz a delegada Renata Chein.
As circunstâncias da morte do pedreiro serão investigadas pela corregedoria da Polícia Civil.
“Todas as informações são importantes, mas o que vai nos dizer com todas as letras, quase sem sombra de dúvidas, se realmente houve um suicídio é o exame pericial”, comenta o corregedor da Polícia Civil Sidnei Costa e Souza.
Adimar de Jesus da Silva era o assassino confesso dos seis adolescentes de Luziânia que desapareceram entre dezembro de 2009 e janeiro deste ano. Os corpos foram encontrados em uma grota, nos arredores da cidade.
O primeiro crime ocorreu uma semana depois de o pedreiro ter sido solto da cadeia. Ele estava preso acusado de pedofilia e ganhou o direito de cumprir pena em regime aberto, mesmo tendo um mandado de prisão contra ele por tentativa de homicídio e um laudo psiquiátrico que indicava que ele poderia voltar a cometer crimes.
Para as famílias dos seis adolescentes, a notícia da morte de Adimar trouxe alívio e indignação.
“Ele tinha muito para revelar. Como nós falávamos, alguém o ajudou. Pode ter sido queima de arquivo”, comenta a irmã de Márcio Lopes, Lúcia Maria Lopes.
Eu queria que ele pagasse na prisão. Foi cedo a morte dele”, diz a mãe do Paulo Victor, Sônia Vieira.
“Ele tinha que sofrer mais para pagar. Ele não pagou nada”, comenta a mãe do Diego Rodrigues, Aldenira Alves de Souza.
Além da polícia, dois promotores do Ministério Público de Goiás acompanham a investigação da corregedoria da polícia. Alguns presos foram ouvidos nesse domingo. Depoimentos de policiais devem ser colhidos nesta segunda-feira.
O corregedor da Polícia Civil Sidnei Costa e Souza disse que vai pedir exames detalhados das vísceras do pedreiro. O laudo do IML sobre a morte dele deve ser liberado em, no máximo, 30 dias.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, se manifestou no domingo sobre esse caso.
“O sistema penitenciário brasileiro precisa passar por uma revisão o mais rápido possível. É necessário que esse sistema dê dignidade ao penado, o recupere para a sociedade. Vivemos um momento em que o sistema está falido. É necessário que haja uma atuação firme do Estado, através de política pública para reinserção social e de resgate da credibilidade do sistema carcerário”, diz o presidente da OAB Ophir Cavalcante.
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