Uma investigação da Polícia Federal revela detalhes de como o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, planejou, de dentro do presídio federal de segurança máxima de Campo Grande (MS), o sequestro de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula.
Discutido entre dezembro de 2007 e agosto de 2008, o sequestro foi evitado pela PF, mas os supostos envolvidos, incluindo Beira-Mar, respondem a uma ação penal na Justiça Federal em Mato Grosso do Sul sob acusação de formação de quadrilha em razão da tentativa.
As investigações da PF em 2008 indicam que o traficante pretendia negociar sua liberdade e a de outros presos entre eles Marcos Hebas Camacho, o Marcola, chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo em troca da soltura do filho de Lula.
Beira-Mar estaria contrariado com a prisão de sua ex-mulher, em 2007, e com a segurança no presídio.
A trama começou a ser investigada a partir de denúncia do traficante colombiano Juan Carlos Abadia, em janeiro de 2008.
Na época, Abadia estava no presídio de Campo Grande, assim como Beira-Mar.
O traficante colombiano revelou o plano de sequestro à direção da penitenciária. Contou que Beira-Mar já tinha cerca de 200 fotos da rotina de Luís Cláudio. Abadia foi submetido e aprovado no teste conhecido como detector de mentiras.
O colombiano, segundo a polícia, decidiu delatar o antigo companheiro de presídio para negociar a transferência de sua mulher, presa em São Paulo, para outra instituição no mesmo Estado.
A transferência, segundo diz a investigação, não se concretizou. O colombiano então parou de passar informações. Em 2008, foi extraditado para os EUA.
As investigações da PF afirmam que o próprio Abadia financiaria o sequestro junto com Beira-Mar. Este, de acordo com o colombiano, gastaria US$ 500 mil para executar o plano.
Após a denúncia de Abadia, um policial federal se infiltrou no esquema fazendo-se passar por um representante do colombiano.
No dia 11 de julho de 2008, esse policial conversou e gravou um diálogo com um emissário de fora do presídio a serviço de Beira-Mar.
"Quem te mandou foi o próprio Beira-Mar?", pergunta o policial disfarçado.
"Ele mesmo", responde Leandro de Oliveira, o contato de Beira-Mar.
"Ele falou para eu levar 350.000 e...", disse o policial.
"Lá no Rio vão te levar até o braço direito dele, do Beira-Mar. E o convidado [o sequestrado] vai ser o preparador físico do Palmeiras [Luís Cláudio, então auxiliar de preparação física do clube de futebol]", responde Leandro.
Relatório da PF do Rio de Janeiro, de 2008, aponta que a definição do alvo está embasada no "constrangimento a ser causado ao presidente da República diante da ciência de que a decisão pela libertação [dos presos] será política; e a facilidade de execução do plano fundada na qualidade/quantidade de segurança do alvo".
O policial infiltrado também se encontrou com o advogado Vladimir Búlgaro, que defende o assaltante de banco José Reinaldo Girotti. Também preso em Campo Grande, ele confirmou o plano para a direção do presídio.
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